II Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Jo 2, 1-11

Homilia: Do Comentário sobre o Evangelho de São João, se São Cirilo de Alexandria, bispo

(Lib. 2: PG 73, 223-226)

          No momento oportuno, Cristo começa a operar milagres, embora pareça fortuita a ocasião. Assim é que, numa celebração de núpcias realizada de modo digno e honroso, estava presente a mãe do Salvador, e ele mesmo fora convidado com os discípulos; não tanto para participar da mesa, mas para operar um milagre e santificar a origem da geração humana, que pertence sem dúvida à naturreza carnal.

          Convinha, pois, que, vindo para renovar a própria natureza do homem, elevando-a a uma condição inteiramente superior, não só abençoasse os que já haviam nascido, mas também preparasse a graça para aqueles que ainda viriam à luz, santificando o seu nascimento. Honrou com sua presença as núpcias, ele que é o gáudio e a alegria de todos, afastando assim a tristeza que estava associada ao nascimento. Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O que era antigo passou, diz Paulo, agora tudo é novo (2Cor 5,17). Ele veio, pois às núpcias com seus discípulos. Era conveniente que, enquanto fazia milagres, estivessem presentes aqueles que se deixavam atrair pelo fascínio dos feitos maravilhosos, recolhendo como alimento de sua fé, o que se estava realizando.

          Veio a faltar vinho para os convidados. Sua mãe pede-lhe que faça uso de sua habitual bondade e benevolência: Eles não têm mais vinho! (Jo 2,3). Exorta-o a realizar o milagre, já que tem o poder de fazer o que quer. Mulher, que desejas de mim? A minha hora ainda não chegou (Jo 2,4). O Salvador se expressou perfeitamente assim, já que não se apressava em fazer milagres nem se oferecia para fazê-los. Mas o fazia para atender a um pedido, e mais para ser útil do que para despertar a admiração dos presentes. Além disso, as coisas desejadas tornam-se mais agradáveis quando não são imediatamente concedidas; cumulam uma feliz esperança se demoram um pouco. Enfim, Cristo quer mostrar-nos o grande respeito devido aos pais, aceitando realizar, em atenção a sua mãe, o que antes não quisera fazer.