III Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Lc 1,1-4;4,14-21

Homilia: Das Homilias sobre o Evangelho de São Lucas, de Orígenes, presbítero

(Hom. 32, 2-6: SCh 87, 386-392)

Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito Santo, e sua fama se espalhou por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam (Lc 4, 14-15).

     Quando lerdes que ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam, precavei-vos de considerar felizes apenas os ouvintes de Cristo e julgar-vos privados de seu ensinamento. Se a Escritura é a verdade, o Senhor falou não somente outrora nas assembleias dos judeus, mas fala ainda hoje, nesta nossa assembleia. E não fala somente aqui, mas em outras reuniões e no mundo inteiro. Jesus ensina, procurando instrumentos para ensinar por meio deles. Orai, a fim de que ele me encontre também disposto e apto para cantá-lo!

     Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, ele foi à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção” (Lc 4, 16-18). Não foi por casualidade que, abrindo o livro, encontrou a passagem do capítulo que falava profeticamente de si próprio, mas por disposição da providência de Deus. Com efeito, está escrito: nenhum pássaro cai no laço sem o consentimento do Pai (cf. Mt 10,29). E ainda: Até os cabelos da cabeça dos apóstolos estão todos contados (cf. Lc 12,7). Por conseguinte, não foi uma consequência do acaso a escolha do livro de Isaías, de preferência a outro, e a leitura da passagem que, precisamente, falava de Cristo e seu mistério: O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção (Is 61,1).

     Tendo terminado a leitura, Jesus fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele (Lc 4,20). Mesmo neste momento, se assim o quiserdes, nesta “sinagoga”, nesta reunião, podeis fixar os vossos olhos sobre o Salvador. Porque, ao dirigires o mais profundo olhar do coração para contemplar a Sabedoria, a Verdade e o Filho Unigênito de Deus, tens os olhos fixos em Jesus.

     Feliz a assembleia, da qual a Escritura afirma que os olhos de todos estavam fixos nele. Como eu desejaria que de nossa assembleia fosse dado igual testemunho, e que os olhos de todos, catecúmenos, fiéis, mulheres, homens e crianças – não os olhos do corpo, mas os da alma – olhassem Jesus! Quando tiverdes vossos olhos voltados para ele, sua luz e sua contemplação tornarão vossas faces mais luminosas e podereis dizer: sobre nós fazei brilhar, Senhor, o esplendor de vossa face (Sl 4,7). A ele seja dada a glória e o poder pelos séculos dos séculos.