Evangelho: Lc 6, 39-45
Homilia: Do Comentário sobre o Evangelho de São Lucas, se São Cirilo de Alexandria, bispo
(Cap. 6: PG 72, 602-603)
O discípulo não está acima do mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre (Lc 6,40). Os discípulos eram chamados a se tornarem guias e mestres do mundo inteiro. Era por isso necessário que se apresentassem sumamente versados nas coisas religiosas: conhecedores seguros dos caminhos do Evangelho, exemplares na prática de toda boa obra, a fim de oferecerem aos outros discípulos uma doutrina clara e sadia, consoante com a verdade. De outro modo, seriam cegos guiando cegos, se já não houvesses contemplado a Verdade, se não tivessem toda a alma iluminada pela luz divina.
Quem está envolto nas trevas da ignorância não pode levar ao conhecimento da verdade quem se encontra na mesma e penosa situação. E, caso o tentasse fazer, cairiam ambos na cova das paixões.
Em seguida, para combater o difundido vício do orgulho e para afastar a pretensão de querer alguém ser mais honrado que o mestre, acrescenta: O discípulo não está acima do mestre. E, se acontecer que alguns discípulos progridam a ponto de igualar os seus antecessores, também agora devem imitá-los, permanecendo nos limites da modéstia dos mestres. Paulo diz ainda o mesmo, ao afirmar: Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1Cor 11,1). Se o Mestre ainda não julga, por que tu te permites julgar? Ele não veio para julgar o mundo, mas para usar de misericórdia; e também a ti ele repete: Se eu não julgo, tu que és meu discípulo não o deves fazer. E pode ser que sejas mais culpado do que aquele que julgas. Como então não te envergonhares? O Senhor diz o mesmo, empregando uma outra imagem: Por que observas o cisco que está no olho do teu irmão? (Lc 6, 41).
Com tais palavras ele nos quer persuadir com maior clareza a nos abstermos de julgar os outros, a examinarmos o nosso coração e a expulsarmos as paixões que o enlaçam; tudo isso, com o auxílio da graça de Deus. É ele quem cura os corações contritos e nos liberta das enfermidades da alma. Por que, esquecendo teus pecados, julgas o outro, sendo mais gravemente culpado que ele? É, pois, necessário este mandamento do Senhor para todos os que querem ser bons, e de modo especial para aqueles que receberam a missão de ensinar aos outros.
Se, portanto, forem bons e perspicazes, dando pela própria conduta um autêntico testemunho de vida evangélica, poderão mais livremente repreender aqueles que se recusam a comportar-se do mesmo modo e a seguir os exemplos de virtudes dos seus mestres.