XI Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Lc 7,36 - 8,3

Homilia: Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 99, 1-2.3.6: PL 38, 595-596.598)

          A pecadora irrompeu na sala, importuna para os convivas, mas oportuna para o dom do Senhor. Ela conhecia o seu mal e sabia ser capaz de curá-lo aquele que acabava de chegar. Aproxima-se, pois, não da cabeça, mas dos pés do Senhor: ela, que tanto caminhara no erro, procura agora os passos da justiça. Primeiro, derrama lágri¬mas, sangue do seu coração, e lava os pés do Senhor com a humilde homenagem dessa confissão. Em seguida, com seus próprios cabe¬los, enxuga-lhe os pés, beija-os e unge com perfume. Seu silêncio diz tudo: sem pronunciar uma só palavra, ela exprime o seu amor.

          E porque, com suas lágrimas, seus lábios, seus cabelos, suas mãos que o perfumavam, aquela mulher tocava o Senhor Jesus Cristo, o fariseu que o convidara – porque era daquela raça de orgu-lhosos, à qual o profeta Isaías se referia dizendo: Não me toques! Não te aproximes, porque estou puro (Is 65,5)– o fariseu supunha que Jesus não conhecesse aquela mulher. Pensava consigo mesmo e dizia em seu coração: Se este homem fosse profeta, saberia quem é a mulher que está tocando nele (Lc 7,39). Mas o Senhor ouviu até mesmo esse pensamento; e, só por isso, o seu hospedeiro já deveria ter compreendido: aquele que assim adivinhara os seus pensamentos poderia acaso ignorar os pecados da mulher? E Jesus então lhe pro¬põe uma parábola: a do credor e dois devedores.

          Ele desejava cura-lotambém, para não comer do seu pão sem pagamento: ele tinha fome desse homem que lhe dava de comer; queria torná-lo melhor, sacrifica-lo, consumá-lo, fazê-lo passar para o seu corpo – como em relação à samaritana, a quem dissera: Tenho sede (cf. Jo 4,7). Que significa: Tenho sede senão: «Tenho necessi-dade da tua fé»? Aquele a quem pouco se perdoa, ama pouco(Lc 7,47)

          Ó fariseu, se amas pouco, é porque julgas que pouco te per-doam. Tu não tens medo que não te perdoem bastante, mas julgas que há pouco a te perdoar. «Mas o que? – dirá este homem; eu, que nunca matei, deverei ser considerado um assassino? Eu que nunca cometi adultério, deverei ser punido como um adúltero? Ser-me-á preciso ser perdoado de pecados que não cometi?»

          Pois bem, eis o que diz o teu Deus: «Eu te guiava para mim, eu te guardava para mim. Para não cometeres adultério, não houve tentação; fui eu que intervim para afastá-la. Não havia lugar nem tempo; para afastar as ocasiões, fui eu que agi. O lugar e o tempo não favoreceram o teu pecado. Para afastar as ocasiões, fui eu pró-prio que agi. E, se houve tentação, lugar e tempo favorável, fui eu ainda que, por um secreto temor, te impedi de consentir. Por conse-guinte, reconhece a graça daquele a quem deves precisamente não teres praticado o mal! Esta mulher está em dívida para comigo por causa do mal que praticou e que tu me viste perdoar. Quanto a ti, este mal, é a mim que deves não tê-lo praticado. Pois, não há falta cometida por um homem que outro não possa também cometer, se não for conduzido por aquele mesmo que criou o próprio homem».