XIII Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Lc 9, 51-62

Homilia: Dos Sermões de São Bernardo, abade

(Sermo I, Dominica in KalendisNovembris, 2: Opera Omnia, EC 5, 305)



          Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas (Hb 1,1),mas foi também visto pelos profetas. Davi o conheceu um pouco abaixo dos anjos, Jeremias igualmente o viu na terra convivendo com os homens, Isaías atesta tê-lo visto ora sobre um excelso trono, ora não somente abaixo dos anjos ou entre os homens, mas como um leproso: isto é, não somente na carne, mas à semelhança da carne do pecado.

          Tu também, se desejas ver Jesus nas alturas, procura antes vê-lo na humildade. Contempla primeiro a serpente elevada no deserto, se queres ver o Rei assentado no trono. Aquela visão te humilhe, para que esta exalte o humilhado. Aquela reprima e cure a tua soberba, para que esta cumule e sacie o teu desejo. Tu o vês aniquilado? Não seja inútil essa visão, para que não te seja inútil a visão gloriosa. Serás semelhante a ele, quando o vires tal como é; sejas também agora semelhante a ele, ao contemplá-lo como se tornou por sua causa.

          Se não recusas certa semelhança com ele na humildade, terás com ele semelhança na glória. Não há de consentir que seja excluído da comunhão da glória quem lhe foi companheiro de tribulação. Numa palavra, não despreza quem é coparticipante de sua paixão, mas o acolhe em seu reino, como o ladrão arrependido na cruz foi com ele no mesmo dia para o paraíso. Eis porque disse também aos apóstolos: Vós sois aqueles que permaneceram comigo em minhas provações; eu também vos confio o Reino (Lc 22,28-29).

          Porque, se sofremos com ele, com ele também reinaremos; seja agora a nossa meditação, irmãos, Cristo e Cristo crucificado. Ponhamo-lo como um emblema sobre o coração, como um distintivo sobre o nosso braço. Abracemo-lo com o amplexo do amor recíproco, sigamo-lo com o desejo de uma vida santa. Pois o caminho, o mesmo percorrido por ele, é a salvação de Deus, agora já não privado de beleza e esplendor, mas tão luminoso, que sua majestade enche toda a terra.