XIV Domingo do Tempo Comum

EVANGELHO: Lc 10,1-12.17-20

HOMILIA: Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 101, 1.2.3.11: PL 38, 605-606.607.610)

 

          Na leitura do Evangelho que acaba de ser proclamado, fomos convidados a procurar qual a colheita de que fala o Senhor: A co-lheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita (Lc 10,2). Então, aos seus doze discípulos, aos quais chamou apóstolos, acrescentou outros setenta e dois, e mandou-os todos à colheita já preparada, como se depreende de suas palavras.

          Qual era, então, essa colheita? Não era entre os gentios, onde ainda não houvera semeadura. Portanto, só podemos compreender essa colheita entre o povo judaico. A essa colheita vem o próprio Senhor da colheita, e a essa colheita envia seus ceifadores; aos pagãos, porém, não enviou ceifadores, mas semeadores. Compreenda¬mos que a colheita seja realizada no povo judeu, porém entre os pa¬gãos é feita a semeadura. Foram escolhidos os apóstolos para aquela colheita quando já estava madura, porque os profetas haviam seme¬ado. É belo admirar a arte de Deus como agricultor, recreando-nos com os seus dons e com os operários do seu campo.

          Permanecei atentos e regozijai-vos comigo, observando a agricultura de Deus e suas duas colheitas, uma passada, outra futura: a passada, do povo judeu; a futura, entre os pagãos. Examinemos isso: de onde provém a colheita do Senhor Deus senão das Escrituras? Lemos o que foi dito: A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita. O Senhor, em outro lugar, disse aos discípulos: Dizeis que ainda está longe o verão; levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados e prontos para a colheita! (Jo 4,35). E acrescentou: Outros trabalharam e vós aproveitastes os seus traba¬lhos (Jo 4,38). Trabalharam Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, os profe¬tas; trabalharam semeando; à chegada do Senhor a colheita foi encontrada madura. Enviados os ceifadores com a foice do Evangelho, recolheram os feixes para a eira do Senhor, onde Estêvão sai triturado.

          Aparece então Paulo e é enviado aos pagãos. E não esconde isso, valorizando a graça que pessoalmente recebeu, de modo extra-ordinário. Diz ele em suas Cartas ter sido enviado a pregar o Evan-gelho onde Cristo não era conhecido. Mas já que aquela colheita está concluída, volvamos a atenção para aquela colheita que somos nós. Os apóstolos e os profetas semearam. O próprio Senhor semeou, pois esteve presente nos apóstolos. E o próprio Cristo fez a colheita. Eles nada são sem Cristo, enquanto Cristo é perfeito sem eles. Por isso disse: Pois, sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5). Portanto, semeando entre os pagãos que disse Cristo? O semeador saiu a semear (Lc 8,5). Lá foram enviados os ceifadores a ceifar.

          Esses são os apóstolos de Cristo, os pregadores do Evangelho, que não saúdam pelo caminho, isto é, que não procuram e não fazem outra coisa senão anunciar o Evangelho com fraterna caridade, e que, quando chegam a uma casa dizem: Apaz esteja nesta casa! (Lc 10,5). Não o dizem somente com a boca, mas irradiam aquilo de que estão repletos; pregam a paz e possuem a paz. Quem, pois, está repleto de paz, saúda: A paz esteja nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele (Lc 10,5-6).