Lectio Divina

AMOR À PALAVRA DE DEUS

O primeiro alimento da vida de oração é a Palavra de Deus. Deus falou pelos profetas. Depois nos enviou o seu próprio Filho. Ele é o semeador da parábola que, sem cessar, lança no mundo a semente divina: “Este é o meu Filho bem-amado, escutai-o”.

Esta palavra do Filho bem-amado, a dos profetas que a prepara, nós a escutamos várias vezes ao dia. Ela é para nós mais importante que o pão do qual nos alimentamos:

 

 

Não só de pão vive o homem,

Mas de toda a palavra

Que sai da boca de Deus.

 

 

Não basta escutar a Palavra, mesmo com alegria, para em seguida retirar-se e logo esquecê-la. A assimilação do pensamento de Deus não se faz assim. É preciso não apenas acolhê-la com fé, mas conservá-la no nosso coração, como fazia a Virgem Maria; e relê-la, confiá-la à memória e a repetir sempre até impregnar-nos profundamente dela.

Este é um modo muito simples de entrar na vida de oração. É, na verdade, escutar Deus que nos fala pelos profetas ou por seu Filho. É contemplar sua ação na história dos homens. É acolher sua revelação na fé e no amor. Para germinar, é preciso que a semente caia numa terra boa, num coração atento, nobre e generoso. A Escritura, dizem os Santos Padres, muda com a preparação daquele que a recebe, com a pureza de seu coração, seu desejo de Deus, seu recolhimento. Com efeito, é aos pequenos e humildes que o Pai celeste reserva o conhecimento mais profundo e mais saboroso de sua Palavra.

Quando Jesus vivia em nossa terra, explicava as Escrituras aos seus discípulos. Seus corações ardiam, enquanto lhes falava pelo caminho. Mas após a Ascensão, é o Espírito quem abre o livro das Escrituras. Ele estava presente, agia no coração dos profetas e deve estar presente no coração de todos aqueles que deles acolhem a mensagem.

Deus lança a semente para que ela dê frutos: primeiramente, frutos de oração, pois a leitura pode transformar-se em oração silenciosa, quando o Espírito passa, ou em canto de exultação. Em seguida, frutos de contemplação. Era pelo perseverante contato com a Escritura que os antigos monges atingiam um conhecimento profundo do mistério divino, uma teologia viva e plena de amor.

A Palavra dá também frutos no desenrolar do cotidiano da existência. Confirmando a fé e avivando a esperança, ela nos desprende das preocupações da vida e conduz ao caminho da perfeição.

O Senhor pode iluminar diretamente os espíritos e os corações. Ele o faz frequentemente com os pequeninos e os mais humildes. Todavia, é habitualmente através da Escritura ou da liturgia alimentada pela Escritura, que penetramos na Inteligência do mistério de Deus. Por isso, cada dia devemos reservar um tempo à leitura dos Livros Santos, especialmente do Evangelho, a fim de comungar o pensamento de Jesus, como comungamos o seu Corpo e o seu Sangue. Esta abertura à Palavra sempre deve ser feita num clima de oração, de humildade e de escuta da Igreja, pois é a ela que Deus confiou os Livros Santos.

Os monges e monjas sempre foram, no coração da Igreja, ouvintes atentos da Palavra. Entre eles são muitos os que a transcreveram, amaram e comentaram. A Regra de São Bento reserva, de fato, longos momentos a esta penetração na Palavra de Deus, que foi denominada Lectio Divina. Esta é um dos elementos essenciais da vida contemplativa da monja. Ela pode estender-se, com a ajuda dos que, no decorrer dos anos, receberam as luzes do Espírito, a todos os aprofundamentos do mistério divino contido na Escritura:

 

 

 

Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena.

                                        Jo 16, 13