Evangelho: Lc 7,11-17
Homilia: Dos Sermõesde Santo Agostinho, bispo
(Sermo 98, 1-3: PL 38, 591-592)
A mãe Igreja se alegra pelos que ressuscitam espiritualmente cada dia
Os milagres de nosso Senhor e Salvador Jesus comovem to-dos os ouvintes e todos os que creem, embora de modo diverso. Al-guns admiram as curas operadas nos corpos, mas não sabem elevar-se mais alto; outros, ao invés, veem com assombro ainda maior, re-novarem-se agora no espírito, as maravilhas que nosso Senhor rea-lizava nos corpos.
Nenhum cristão duvida que também hoje os mortos ressus-citem. Todo homem tem olhos capazes de ver os mortos ressurgi-rem, como o filho da viúva, de quem fala o Evangelho que acabais de ouvir; mas nem todos têm olhos para ver ressuscitados os que morreram espiritualmente: só aqueles que já ressurgiram em seu co-ração, conseguem percebê-lo. É maravilha mais estupenda ressusci-tar um morto para a vida que desconhece ocaso, do que ressuscitar alguém que de novo há de morrer.
A ressurreição daquele jovem enche de alegria a mãe viúva. A ressurreição espiritual de seus filhos alegra cada dia a mãe Igreja. Aquele estava morto no corpo; estes, na alma. Do primeiro chorava-se visivelmente a morte visível; da morte invisível dos outros nin-guém se ocupava, nem se dava conta.
Mas não ficou indiferente aquele que conhecia os mortos; e só os conhecia aquele que podia devolvê-los à vida. Se o Senhor não tivesse vindo para ressuscitar os mortos, o Apóstolo não teria dito: Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará(Ef 5,14). Pensas em alguém que dorme, quando ouves: Desperta, tu que dormes; mas compreendes que é um morto, ao ou-vires: dentre os mortos. Muitas vezes usamos a expressão «os que dormem» para designar os que morreram visivelmente. Na verdade, estão apenas adormecidos para aquele que pode devolver-lhes a vida. Consideras morto alguém que não dá sinal de vida, mesmo quando o tocas, sacodes ou feres. Ao contrário, para Cristo estava apenas dormindo aquele a quem disse: Levanta-te(Lc 7,14); e logo se levantou. Ninguém desperta outro do sono com tanta facilidade como Jesus, que chama do sepulcro.
Nosso Senhor Jesus Cristo queria que fossem também enten¬didos no sentido espiritual os milagres que operava nos corpos. Não fazia milagres só por fazê-los, mas para que provocassem a admira¬ção daqueles que os viam, e levassem à fé quem os compreendesse.
Quem vê as letras de um livro escrito com perfeição, mas não sabe ler, louvará a mão do copista e apreciará a beleza das letras, mas nada entenderá do significado. Admira com os olhos, mas não entende com a mente. Um outro, ao contrário, exalta a arte e com¬preende o conteúdo. Pode ver o que todos veem, e ainda é capaz de ler, o que não acontece com o iletrado. Do mesmo modo, quem viu os milagres de Cristo sem captar-lhes o sentido e o significado mis¬terioso que revelavam, apenas os admiram; outros, além de admirar os fatos exteriores, compreendem o que significavam. Assim deve ser cada um de nós na escola de Cristo.